Entrevista à Ana Mineiro, que é vegan, com direito a receita.
O que é o estilo de alimentação vegan?
Ser vegan (ou vegano) é mais um estilo de vida do que apenas de alimentação: ao recusar comer tudo o que provém da exploração abusiva e do sofrimento dos animais, recusa-se também outros produtos associados ao abuso e à crueldade, como peles (incluindo o couro) ou qualquer tipo de produto de cosmética ou higiene que seja testado em animais.
Quais são as vantagens desta alimentação?
Para além da consciência tranquila, que vem de saber que fazemos o nosso bocadinho, nem que seja uma gota, para tornar o planeta um mundo melhor para todos, o veganismo é um tipo de alimentação muito mais saudável e muito mais económico do que a alimentação omnívora.
É fácil ser vegan: para além dos legumes e frutas frescas, frutos secos e leguminosas, encontra-se tudo o que é preciso na maior parte dos super e hipermercados. Até mesmo tofu e seitan, (derivados da soja e do trigo, muito ricos em proteínas e geralmente usados pelos vegetarianos, embora não imprescindíveis) e mesmo refeições prontas. Passando a publicidade, o Pingo Doce tem umas excelentes chamuças adequadas para vegans – e para marmitas!
E desvantagens?
A única desvantagem é, no início, ter de ler a letra miudinha de tudo o que se compra: há sempre coisas com leite em pó (até frutos secos!), ovo sintetizado e cochinilha, um inseto que é esmagado aos milhares para dar um tom rosado à comida, e que muitas vezes aparece disfarçado com o nome de E 120.
Também convém verificar se a margarina, leite (de soja, arroz ou outros) e cereais do pequeno-almoço, têm vitamina B12; os omnívoros ingerem-na nos produtos animais, como os ovos, mas os vegan têm de ingeri-la através de outros alimentos.
Fazes cursos?
Já fiz vários, do sushi ao crudivorismo. Agora dou regularmente cursos de comida vegetariana vegan no Porto, em associação com o Centro Vegetariano. Os lugares variam, mas têm sido mais frequentes no restaurante Capa Verde, na Rua Nossa Senhora de Fátima. As sessões costumam ser muito informais e divertidas: durante 4 ou 5 horas cozinha-se, aprende-se (eu aprendo sempre qualquer coisa!), conversa-se e come-se. Geralmente vario os temas (Cozinha do Dia-a-Dia, Comida de Piquenique, Mesa de Festa, Marmita Vegetariana, etc.) e há pessoas que voltam para fazer mais um “tema” diferente. Já tive pessoas com treze anos e com mais de oitenta, e acho que ninguém se aborreceu! O preço é sempre o mesmo: 30 €.
Alguma dica para quem cozinha vegetais mas não é necessariamente vegetariano?
Uma única dica: atrevam-se. Experimentem tudo o que vem da terra e deixem de comer animais.
Que prato vegan sugeres que seja prático para levar para o almoço no trabalho?
Não uso marmita para o trabalho porque trabalho em casa, no computador, ou demasiado longe de casa para levar marmitas - sou jornalista na área de viagens, e em breve vou reunir as duas paixões num site que está em criação. Uso marmita para piqueniques e caminhadas, que adoro fazer com os amigos.
O meu prato “marmiteiro” favorito, para além do sushi, é a tortilha enrolada, ou wrap. Pode variar-se até ao infinito, do tipo de tortilha (trigo e milho são as mais comuns) até ao recheio.
Tortilha de húmus
■ Tortilhas pré-compradas, de trigo ou milho (existem nas grandes superfícies)
Aquecer as tortilhas dos dois lados, para ficarem bem maleáveis. Barrar com humus e cobrir com folhas de rúcula, cenoura ralada e azeitonas sem caroço.
Temperar com um fio de azeite e um pouco de sal.
Para fazer o humus: 1 frasco de grão--de-bico cozido, dois dentes de alho, duas colher de chá de manteiga de sésamo (tahini, à venda nas grandes superfícies), limão, sal, pimenta preta, salsa e coentros. Fazer uma pasta com o grão, o alho e um pouco de água, até ficar macia. Juntar o tahini e os temperos a gosto.
É óptimo para variar das sandes, tem uma excelente combinação de hidratos de carbono e leguminosas que dão energia para caminhar, e também uma boa dose de vitaminas dos vegetais crus. Quem gostar pode juntar umas gotinhas de tabasco.