segunda-feira, 30 de setembro de 2013

[Desafio] Nostalgia em torno de uma lata

Acho que nos damos conta do quão mediterrânicos somos quando vemos que tantas das memórias que temos são à mesa. Então nós, que tínhamos uma casa grande e acolhíamos tantas refeições entre amigos ou as de família. Agora, a viver em apartamentos, continuamos a fazer caber todos, entre a família que vai crescendo e a acolher famílias que são nossas no coração, como no último Natal. Mas nem só de dias de festa são feitas as memórias. Também aquelas refeições do dia-a-dia, em família, são parte do que enche o coração. Como a minha irmã e eu saímos cedo (cada uma aos 15 anos) de casa para estudar, essas refeições a quatro tornaram-se mais espaçadas. 

Havia ali, numa mesa de quatro, cruzamentos, cumplicidades e circuitos proibidos em termos de alimentos. O tomate era uma coisa minha e da minha mãe, porque o meu pai e a minha irmã não comiam. As ervilhas eram uma coisa só dos meus pais, porque a minha irmã não comia e eu, irmã mais nova, habituei-me a não comer (até que aos 25 anos as encontrei escondidas num hamburguer de lentilhas na cantina do trabalho e me assustei por gostar!). A lata de sardinhas era uma coisa do meu pai e minha: a minha mãe prefere as frescas e a minha irmã recusa todas. Se só havia sopa (apesar de ser daquelas fortes, à melhor maneira da Beira Baixa) e o meu pai queria comer mais qualquer coisa, recorria à dispensa e vinha de lata em riste, matando as saudades da época alta do belo peixe, ou compensando o facto de morarmos no interior e nem sempre haver (boa) sardinha à venda. Tanto o meu pai gosta de conservas que no Natal normalmente lhe ofereço um pequeno cabaz de conservas escolhido numa loja gourmet, para que ele possa ir descobrindo durante uns tempos.

Já tomei a resolução de provar sardinha fresca, mas este ano ainda não aconteceu... E sardinhas em lata não voltei a comer, até este desafio do Limited Edition, em torno da nostalgia. Não tinha que ser conservas, mas calhou bem para voltar atrás no tempo, com feijão frade e salsa, um pouco de couve roxa e azeite.


Testado em casa, aprovado para a marmita, sobretudo em versão 'mantimentos de guerra': uma lata de atum e uma lata de sardinha no escritório para aqueles dias em que não tivemos tempo para preparar e empacotar almoço e também não temos muito tempo para ir comer a um restaurante. O tempo das memórias, esse, ninguém no-lo tira.

2 comentários:

Anónimo disse...

Obrigada pela tua participação no meu passatempo! Sabes o que é mais engraçado, para além de vos conhecer um pouco melhor a cada história e receita, é que muitas das vossas participações também se cruzam com memórias minhas. Por exemplo, em casa do meu pai, cada um podia ter uma só coisa que não gostasse. A minha irmã Margarida escolheu: "PEIXE". LOL! Para negociar com ela, a minha madrasta sempre que fazia peixe, punha-a a comer uma lata de atum. Portanto, nas minhas memórias, as latas de atum são o domínio da Margarida, tal como em tua casa são do teu pai! :))
Beijinho

Marmita Lisboeta disse...

:))

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