A semana passada não houve marmitas. Nem uma (nenhuma?). Espera, uma: salsichas de soja e massa fusili comidos à mão porque me esqueci de talheres e não tinha tempo de atravessar o local de trabalho para ir procurar. Aliás, mesmo os jantares foram quase todos fora de casa. E só uma razão para sair de casa para jantar foi pessoal: uma festa de anos; as restantes: work, work, work, porque o trabalho também passa por jantares, e almoços volantes uns dias melhores outros dias piores. Um evento na minha área trouxe a Lisboa mais de 1000 pessoas de toda a Europa (e outros), alguns dos quais já fui conhecendo em eventos similares. Como estava na minha cidade, muitos perguntavam por sugestões para comer comida portuguesa, mas com o mau tempo (o da atmosfera), pouco tempo (o do tic-tac) e dificuldade de orientação dos turistas fora de zonas de Metro, o factor localização acabou por vencer. Numa zona onde eu e outros Portugueses não conhecíamos nada (Campo das Cebolas), fomos com mais estrangeiros a um restaurante churrascaria, tipo 'everyday', e se não fosse por ir com pessoas de fora nunca teria reparado num "pormenor": a lista em Português não era traduzida para Inglês e outras línguas, mas adaptada. As opções de meios pratos que existiam na primeira lista não estavam nas "estrangeiras"; e alguns pratos eram eliminados, talvez os mais baratos mas não quis analisar em pormenor... Quando lemos as opções em Português e dissemos 'lamb', a minha colega canadiana-galesa pediu esse e achou graça também às batatas a murro. Ela gostou bastante, outras pessoas também e o meu prato também era bom, um simples robalo grelhado. É possível que haja alguma razão lógica para esta adaptação mas não a consegui alcançar e também não quis confrontar o senhor que nos atendeu, uma pessoa simples e possivelmente não o dono do restaurante. Mas senti-me constrangida pela situação e fez-me temer pela onda de turismo em Lisboa que tem, acho, dois lados (na restauração como na hotelaria, arriscava a dizer): novos negócios a tentar recriar a tradição, gourmet, do bairro, etc, feitos com pessoas mais novas e mais formadas, potencialmente mais caros, enquanto alguns - alguns - dos mais genuínos ou mais antigos, mais populares, continuam a servir-se de pequenos artifícios para ganhar mais alguma coisa. Os mais modernos também têm alguns truques, certo. Estamos melhores nos táxis (pelo que ouço dos visitantes estrangeiros a Lisboa que conheço) mas ainda precisamos de mais. Quando se diz que em Portugal somos bons anfitriões - que somos - esquecemo-nos um pouco do nosso chico-espertismo. Não será isso também uma experiência genuinamente portuguesa?
Foto originalmente publicada por A Marmita Lisboeta no Zomato |
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