Houve uma altura em que sonhava com a América Latina. Ler a Isabel Allende, o Gabriel Garcia Marquez, Luís Sepúlveda, ver os Motorcycle Diaries no auge dos meus 19 anos deve ter ajudado. Fui estudar Espanhol, eu que vivera até então na "raia", na Beira Baixa mais chegada a nuestros hermanos, mas que ia sempre a Espanha num ir e voltar no mesmo dia e não se aprende uma língua por se ver televisão do país vizinho. Pela mesma altura, comecei a ouvir falar do Comércio Justo e fui em busca dos poucos quiosques que existiam em Lisboa, depois loja, mas os preços dos produtos eram demasiado altos para uma singela universitária, e ficava-me pelas pequenas barras de chocolate e as de sésamo. E se, com o tempo, fui deixando de ler os autores da América Latina, trocando-os por outros de geografias mais a Norte, a ideia do Comércio Justo não me abandonou. Mas, como via noutros países europeus, sobretudo em Inglaterra, achava que o impacto no mercado não se faria por circuitos próprios, mas pela pressão dos consumidores sobre as grandes marcas para que passassem a adoptar práticas de comércio justo para os grandes mercados: o fair trade em etiquetas nos produtos, certificações de boas práticas.
Sobretudo nos mercados do cacau, do café e do chá, esses bens de países cujos climas e geografias estão mais distantes dos países mais desenvolvidos, mas sem os quais estes não passam!, a imposição do poder dos grandes grupos sobre os pequenos produtores, com poucas alternativas de subsistência, dita a perpetuação das condições de vida, comprometendo o desenvolvimento das comunidades, com preços baixos pelos produtos, que obrigam a que trabalhem famílias inteiras, incluindo as crianças, com poucas condições e abandonando a educação. A pouco e pouco, contudo, mais e mais cooperativas começaram a ganhar poder para aumentar os preços, pressionando os compradores a cortar nos circuitos intermediários que ficam com grandes percentagens de lucro. Com entidades certificadoras, é hoje possível confiarmos que as marcas usem selos que garantem que negoceiam em condições mais justas com os produtores. E não necessariamente mais caros para os consumidores, uma vez que cortam nos intermediários e negoceiam também com retalhistas com base na qualidade e na procura crescente do mercado. Hoje já não sonho tanto com a América Latina, mas preocupo-me.
Há alguns dias, fomos conhecer a Pacari, uma marca de chocolates que tem somado prémios por vários certames da especialidade, liderada por Santiago Peralta, que viveu e estudou em Portugal. Criou um negócio que respeita a comunidade de produtores, investindo nas infra-estruturas de escolas e pagando preço justo pelos produtos. Além disso, tem um sistema de agricultura biodinâmica, mais sustentável. Porque o comércio justo é ecológico e económico, feito com respeito entre produtores e compradores, o produto final é melhor. E é tão mas tão saboroso. Ultimamente só como chocolate com mais de 70% de cacau, e este é mesmo muito bom. Combinado com sal ou com maca, o cacau da Pacari torna-se ainda mais único.
A Pacari pode encontrar-se nas lojas de produtos biológicos (como Brio, Biocoop, Miosótis, etc) e na zona de produtos biológicos do El Corte Inglés.
A Pacari pode encontrar-se nas lojas de produtos biológicos (como Brio, Biocoop, Miosótis, etc) e na zona de produtos biológicos do El Corte Inglés.
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